segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Palestra José do Telhado e António Nobre



No dia 7 de Fevereiro, pelas 16 horas, decorreu no Cais Cultural AMC uma Palestra sobre José do Telhado e António Nobre, por José Mário Carvalho.
O intuito foi dar a conhecer duas figuras ligadas a Caíde de Rei, embora ao contrário de José do Telhado que cá se casou, viveu e teve filhos, António Nobre apenas passava por Caíde aquando da sua visita à família, porém no seu livro vem evocada a terra Caíde de Rei.
Foi uma tarde interessante e enriquecedora.

(7 de Fevereiro de 2010)

O José do Telhado, o sargento condecorado, elevado à categoria de herói, entronizado pela realeza, querido pelos seus conterrâneos, amado pela sua mulher e filhos, revoluciona a época e introduz um tema original e único: "onde está a justiça social?" As respostas sociais?
Tornou-se fracturante a sua atitude. Consequência disso o degredo, a morte no continente africano. Comum a todos quanto se insurgem contra a corrente dos tempos.
É chegado o momento de "ressuscitar" o Homem que incomodou e abalou o tempo e continua a abalar e a interpelar a Humanidade deste novo milénio. A glorificação deste Homem passa por dar vida ao seu Espírito. Ele habita na nossa comunidade, o seu sangue corre nas veias de grande parte desta comunidade de caíde de Rei e além fronteiras. Esteve demasiado tempo em paz. Ele nunca procurou paz. A paz necessita de criatividade e ousadia para nos demarcarmos do tempo e dos esquemas de época.
Os protagonistas da história deixam sempre uma marca única, original e contagiante no sentido de que façamos aquilo que temos a fazer sem adiamentos nem queixumes. Assumindo o que há para assumir.
O José do Telhado está vivo.
O seu processo júridico devia ser alvo de um estudo profundo. Os temas, as testemunhas, a conjuntura de época, e tudo mais...
Vamos dar início a estudos de pormenor, recorrendo a psicólogos, sociólogos, juristas, antropólogos, teólogos... sobre esta grande figura da nossa região. Este é o nosso monumento vivo. Este é o nosso ícone da acção social.

António Meireles (Presidente da Junta de Freguesia de Caíde de Rei)

























Canção da Felicidade


Felicidade! Felicidade!

Ai quem ma dera na minha mão!
Não passar nunca da mesma idade,

Dos 25, do quateirão.

Morar, mui simples, nalguma casa

Toda caiada, defronte o Mar;

No lume, ao menos, ter uma brasa
E uma sardinha pra nela assar...

Não ter fortuna, não ter dinheiro,

Papéis no Banco, nada a render:

Guardar, podendo, num mealheiro

Economias pró que vier.


Ir, pelas tardes, até à fonte

Ver as pequenas a encher e a rir,

E ver entre elas o Zé da Ponte

Um pouco torto, quase a cair.


Não ter quimeras, não ter cuidados

E contentar-se com o que é seu,

Não ter torturas, não ter pecados,

Que, em se morrendo, vai-se prò Céu!


Não ter talento; suficiente

Para na Vida saber andar,

E quanto a estudos saber somente

(Mas ai somente!) ler e contar.


Mulher e filhos! A Mulherzinha

Tão loira e alegre, Jesus! Jesus!

E, nove meses, vê-la choquinha

Como uma pomba, dar outra à luz.


Oh! grande vida, valha a verdade!

Oh! grande vida, mas que ilusão!

Felicidade! Felicidade!
Ai quem ma dera na minha mão.

António Nobre
1892

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